Religião nas Redes Sociais — Uma análise de expressões pessoais e debates no facebook

Rodrigo Chimello
13 min readApr 7, 2017

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Os seres humanos têm a obrigação ética de velar por seus semelhantes, partindo-se do principio de que a solidariedade não é uma opção, mas um mandato.

No livro de Levítico, Deus prescreve: “Não procurem vingança nem guar­dem rancor contra alguém do seu povo, mas ame cada um o seu próximo como a si mesmo. Eu sou o Senhor.” (Levítico 19:18).

Agir deste modo na vida cotidiana não merece reconhecimentos especiais, faz parte da vida humana. Um importante pensador judeu contemporâneo, o Rabino Abraão Y. Heschel (1987) declara que tal comportamento representa simplesmente “a maneira de viver corretamente”.

O cientista Allen Downey, da Olin College de Engenharia da Computação, em Massachussets (EUA), encontrou fortes indícios de que a queda na filiação religiosa tem ligações com o aumento do uso da internet e, particularmente, de ferramentas como Facebook e Twitter, que não só tomam tempo excessivo das pessoas como as expõem a uma série de informações, conceitos e comportamentos prejudiciais à fé cristã.

“O aumento do uso da rede mundial nas últimas duas décadas causou grande impacto na filiação religiosa”, defende o pesquisador.

Ele traçou paralelos entre a importância crescente das redes sociais no cotidiano das pessoas e a sua expressão de fé — e a correlação entre uma e outra ficou clara — em alguns cruzamentos de dados, o absenteísmo à igreja, entre usuários cristãos ativos de redes sociais, beira os trinta por cento.

“É fácil imaginar que uma pessoa que foi educada em uma determinada religião possa se afastar dela, mas a proporção atual foge das tendências ao longo da história”, conclui Downey.

Pesquisa da Intel mostrou que os brasileiros são os que mais discutem religião na internet móvel e nas redes sociais. Tamanha multiplicidade de possibilidades tem tornado possíveis mudanças em diferentes aspectos relacionados à vida humana — inclusive, claro, a fé e a espiritualidade.

“Basta ter uma conta sem custo nas mais populares redes sociais digitais, como Facebook ou Twitter, e o espaço está garantido para a livre manifestação”.

Nessa FaceChurch sem templo e sem púlpito, as tradições teológicas passaram a ser relativizadas, bem como a autoridade dos líderes clássicos. “Questionamentos são feitos a todo tempo, doutrinas e posturas teológicas contrários às perspectivas denominacionais são pregadas”.

Já é possível encontrar, por exemplo, comunidades virtuais como a Igreja Evangélica Virtual Deus Todo-poderoso, que oferece serviços como pedido de oração e aconselhamento.

A pesquisa da Intel revelou que 39% dos entrevistados afirmaram ter o hábito de tratar do tema religião em celulares e tablets. Outro fator revelado pelo estudo é o grande número de brasileiros que admitem manter, no ambiente virtual, uma personalidade diferente daquela da vida real — cerca de 33 por cento. E outros 23% admitem postar informações falsas nas redes sociais de que participam. “A falta de ética e respeito pelos valores cristãos torna as redes sociais um caminho perigoso que pode levar até ao afastamento da fé e à apostasia”.

“Não há nenhum outro grupo no Brasil com mais poder de mobilização na rede social do que os evangélicos”

“Há um enorme poder multiplicador, e as notícias, entre nós, se propagam rapidamente”. Isso acontece porque o crente, em geral, dá muita credibilidade ao que outros evangélicos dizem. Assim, uma notícia, novidade ou simples boato pode ganhar força de verdade. Foi assim, por exemplo, quando correu no Facebook a notícia de que o presidente americano, Barack Obama, teria anunciado que apenas as pessoas que tivessem implantado um microchip sob a pele teriam acesso a serviços de saúde no país. Alardeado pelos crentes como a marca da besta, prevista no Apocalipse, o boato mobilizou as páginas dos evangélicos até sucumbir por falta de comprovação.

“A grande questão a ser considerada é a motivação com que o internauta utiliza a rede social”

Você pode se sentir o “todo poderoso”, com centenas de amigos adicionados na tão amada rede social, só que não, você é apenas um coitado que nem sequer recebe, de verdade, um convite “real” para a festinha de aniversário de 10% deles. Isso te levará a algo de frustração. A não ser àqueles cumprimentos “copie e cole” de parabéns em sua timeline, você não ganha sequer um abraço. Isso certamente te deixa para baixo.

Conhecimento, notícias importantes que a rede oferece por meio dos “feeds” ficam sempre para segundo ou terceiro plano, talvez até “passem batido” se você encontrar pela frente uma fofoca, uma intriga envolvendo pessoas de que não goste muito, ou talvez uma notícia de alguém que vai de férias para a Europa e você não! Sabendo que você adoraria conhecer Roma, alguém posta: “partiu Roma”! Como estará seu sentimento?

A pessoa sempre sabe que vai causar inveja a outros postando fotos da última viagem; o edital do concurso com o nome dela entre os primeiros aprovados — que você também fez e não passou; eventos que ele foi e você não;

Há também àqueles que passam a vida a postar coisas religiosas, o que dá lugar aos ateus a também postar coisas suas, relativas ao ateísmo, e até piadas envolvendo o grupo oposto. Isso certamente levará a inimizades. Aqui, na verdade, o que há é intolerância religiosa e intolerância à falta de religião do outro!

O certo é que, mais cedo ou mais tarde, muitas dessas pessoas começam a te incomodar de verdade. Qual seria a maneira mais fácil de se “livrar” delas sem que percebam? Deletá-las é que não! Que tal configurar o face para não receber mais atualizações de sua página? Você não quer deixar de “ser popular” (ter um número expressivo de “amigos” no face, mesmo que eles não tenham nada a acrescentar em se tratando de gostos, desejos, e algo em comum); dessa forma continuará sendo teu “amigo” — mas, será?

Pode ser que você seja o incômodo e nem saiba disso, só descobre quando posta uma foto qualquer que acredita irá “bombar” e ninguém curte, ninguém comenta — aí sim que a tua auto-estima vai por “água abaixo”, é nessas horas que um psicólogo poderia ajudar!

O facebook também é um verdadeiro “roubador de tempo”, quem nunca notou ter deixado mil e uma coisa para fazer só para ficar rolando de feed em feed dos “amigos” ou curtir algo de alguém que goste, ou mesmo curtir apenas para fazer uma “média” — mesmo não gostando do post. Causa impacto no trabalho e até em sua vida privada. Quanta coisa mais produtiva poderia estar fazendo não fosse o face?

Portanto, apesar de incrível, cheia de diversão e possibilidades, é apenas uma rede social, nada mais! Você tem uma vida aqui fora. Cuide dela, tenha amigos reais, tenha uma vida real ao lado de pessoas reais — não troque o certo pelo duvidoso, não seja motivo de inveja e nem um invejoso padrão, um “buscador” de notícia da vida dos “amigos”. Não deixe que “roube” o teu precioso tempo; tempo que poderia desfrutar e investir no teu futuro!

Religião prospera quando a comunicação ocorre entre uma pessoa e um único público — quando, por exemplo, um pregador fala aos integrantes de sua congregação ou quando um fiel ora diretamente a Deus.

Contudo, a religião retrocede quando a comunicação se destina a diferentes públicos, como se dá nas redes sociais, porque nesse caso uma mesma mensagem é transmitida para diferentes contextos, criando neles distorções, constrangimento e tensão.

Essa análise é do pastor presbiteriano Henry G. Brinton, da Igreja de Fairfaix, em Fairflax (Virgínia, EUA). Ele escreve artigos sobre religião e cultura para Washington Post, USA Today e Huffington Post, entre outras publicações. É autor ou co-autor de cinco livros, como “Raízes e Frutos da Hospitalidade Cristã”.

Ele disse estar cada vez mais convencido de que a mídia social está minando a religião, com mensagens que tentam abarcar todos os “gostos” para obter “seguidores” entre os quais muitas vezes uns não têm nada a ver com outros.

“[Isso] distrai as pessoas de um relacionamento com Deus e com os seus vizinhos mais próximos”, argumentou, dizendo que essa perda de contexto deve ocorre com as mensagens do papa Francisco pelo Twitter, com 3,8 milhões de seguidores.

“Pense no que acontece quando você posta uma foto ou uma mensagem no Facebook: você enviar esta única mensagem para vários públicos constituída por amigos, familiares, colegas e vizinhos. Muitos contextos são recolhidos em um só, o que cria problemas, porque a comunicação normal requer que você se conecte com cada um desses grupos de maneira um pouco diferente. Em vez de uma comunicação clara, você acaba criando constrangimento e tensão”.

Assim, para ele, o recomendável é que o religioso no Facebook, por exemplo, envie mensagem para uma pessoa ou para um grupo de tema bem definido, de modo a preservar o contexto. Mas, disse, muitas organizações religiosas tentam chegar a tantas pessoas quanto possível, o que pode ser um tiro pela culatra.

“A fé religiosa se torna mais forte quando reservamos um tempo para nos afastarmos do mundo e se concentrar em Deus e ter contato mais próximo com os vizinhos, em vez de segui-lo no Twitter”, escreveu o pastor.

“A palavra ‘religião’ vem do latim religare , ‘ligar’, o que significa que a nossa religião nos liga uns a outros, à comunidade e a Deus por intermédio de um conjunto de práticas espirituais.”

Para Brinton, as pessoas precisam fazer esforço para não ficar tão expostas à ausência de contexto das redes sociais. Ele elogiou o “Dia Nacional da Desconexão”, que transcorre nos Estados Unidos em março, quando muitas pessoas mantêm desligados o celular, tablet e computador por 24 horas.

A despeito disso, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman nos oferece um manancial de conhecimento através do seu olhar crítico e atento do mundo contemporâneo. Para ele, o grande sucesso da vida “online” reside na facilidade de desconectar, isto é, de fazer e se desfazer dos laços construídos sem o dispendioso trabalho que possuímos na vida “off-line”. Dessa maneira, as relações são pautadas pela extrema fluidez e velocidade, uma vez que o grande atrativo da vida online é poder estar em constante movimento, desfrutando livremente da tecla “delete” assim que uma relação acene com possibilidades melhores.

Esse modelo de relacionamento, portanto, parece ter como fonte principal de prazer o ato de se desfazer das relações, já que o sucesso dos relacionamentos não é medido pela profundidade, e sim pela sua capacidade rotativa que transforma tudo em uma grande rede descartável.

“A alegria de livrar-se de algo, o ato de descartar e jogar no lixo, esta é a verdadeira paixão do nosso mundo.”

Sendo assim, qualquer tempo investido em uma relação mais profunda e, sobretudo, fora de uma tela, é tido como sinônimo de desperdício, afinal, com tantas opções, qual a razão para estar preso em apenas algumas delas?

A associação de tempo investido com desperdício ganha contornos ainda piores ao analisarmos o contexto no qual estamos inseridos, em que o tempo tornou-se um artigo de luxo e, portanto, o “sucesso” do indivíduo está diretamente relacionado ao modo como abandona antigas preferências e desliza com agilidade e leveza por novas.

“Fazer contato visual ou permitir a aproximação física de um outro ser humano é sinônimo de desperdício, pois equivale a dedicar algum tempo, escasso e precioso, a aproximação: decisão que poderia interromper ou impedir o surfe em tantas outra superfícies convidativas.”

Há de se considerar, dessa forma, que no mundo online a quantidade exerce maior importância que a qualidade, de tal maneira que se deve buscar a maior rotatividade possível, a fim de contemplar um maior número de conexões. Para facilitar tantas conexões, as relações devem ser ausentes de contradições e contrastes que tornam as relações reais mais trabalhosas, levando, assim, a uma padronização das relações e, consequentemente, das pessoas presentes nessas relações.

“A capacidade interativa da internet é feita sob medida para essa nova necessidade. É a quantidade das conexões, mais que sua qualidade, que faz a diferença entre as possibilidades de sucesso ou fracasso.”

Essa padronização talvez seja o traço mais destrutivo do modelo de vida online que levamos, já que há uma despersonalização do individuo, que é despido de suas características próprias para que possa ser integrado pela grande rede. Em outras palavras, ao seguir esse modelo, há uma automatização que transforma os humanos em ciborgues e, pior, de forma espontânea e livre, posto que já estamos biologicamente programados, como revela uma pesquisa, a qual diz que recebemos um fluxo de dopamina (produto químico que negocia o prazer no cérebro) quando ouvimos o aviso da caixa de entrada.

Entretanto, é inocência pensar que a vida off-line esteja tão diferente, diria que esta está englobada pela vida online ou no mínimo segue os seus ditames, ou seja, busca fugir da dispendiosidade que relações verdadeiras possuem, bem como, do tempo que é necessário ser investido nas mesmas. Nesse ponto reside o cerne da questão, uma vez que uma relação verdadeira seja real ou virtual necessita de tempo e da capacidade de o indivíduo estar aberto às dificuldades inerentes em qualquer tipo de relacionamento. Apesar disso, não estamos dispostos a nos esforçar tanto por uma relação, já que, como disse, existem milhares o tempo inteiro acenando com possibilidades mais atraentes.

Essa grande rede de conexões, no entanto, é apenas uma ideia ilusória, posto que ao estar inserido em tantas relações, não há envolvimento com nada, de tal forma que o indivíduo se encontra em um meio termo em que não se envolve verdadeiramente com o que acontece com os amigos virtuais, mas também não está envolvido com o que acontece nas relações reais, inclusive, pelo fato destas estarem cada vez mais parecidas com as relações virtuais.

Obviamente, nem todas as relações são pautadas da forma supracitada, bem como, não há problema em usufruir a internet, afinal, esse texto chegará até você por meio dela. Sendo assim, o problema está no modo como utilizamos essa ferramenta e como temos aplicado o seu modus operandi na vida off-line, revelando ao mesmo tempo uma solidão imensa que cria a necessidade de estar o tempo inteiro “conectado” e a incapacidade/falta de vontade/preguiça de estar inserido profundamente em uma relação que não seja equipada com a tecla “delete” e “antispam”, “[…] mecanismos que protegem das consequências incômodas (e sobretudo dispendiosas em termos de tempo) das interações mais profundas”.

Como dizia Millôr Fernandes — “O importante é ter sem que o ter te tenha”, de modo que ao estarmos inseridos na grande rede, é preciso lembrar que a pessoa humana real precede e é mais importante que um perfil em uma rede social. Mais que isso, é preciso lembrar que pessoas reais não sorriem o tempo inteiro e não “seguem” as mesmas coisas que nós, de forma que impreterivelmente haverá problemas que não poderão ser resolvidos com a tecla “delete”, assim como, existem emoções e sentimentos que jamais poderão ser sentidos através de uma tela, já que por mais que a internet tenha avançado, nada substitui a conexão de dois corações em sintonia.

As redes sociais “inundam” o dia de muitas pessoas, chegando inclusive a um ponto no qual, se não twittarmos algo, ou publicarmos uma foto… é como se não existíssemos.

Não se trata, então, de renegar as novas tecnologias e de evitar a todo custo as redes sociais. É algo inevitável. Nos dias de hoje a sociedade está interconectada. É como um grande cérebro cheio de conexões e sinapses onde as novas tecnologias são extensões dos nós mesmos.

  • Trata-se de estabelecer prioridades.
  • Trata-se de não “depender”, de não chegar a um extremo de pensar que, se não publicarmos algo, deixamos de existir na vida real. De fato, assim como costuma-se dizer de brincadeira, “uma pessoa pode ir e voltar de um lugar sem ter que publicar isso”.
  • O poder do “Like” nunca deve ser uma necessidade de receber reforço positivo no dia a dia. Ninguém deveria ter que postar uma foto para saber se é ou não atrativo.
  • A aceitação de si mesmo nunca deveria depender da quantidade de “Likes” obtidos em um dia.

Poderíamos dizer que a melhor rede social é formada por não mais que cinco pessoas, aquelas pelas quais decidimos deixar o telefone de lado e assumimos uma grata conversa, até que a noite caia. Entretanto, especialistas indicam que, na atualidade, o maior risco de dependência absoluta pelas redes sociais está, sem dúvidas, nas gerações mais jovens:

  • São muitos os adolescentes que se caracterizam por uma baixa autoestima, se sentem “descartáveis” na própria sociedade, mas dependentes, por sua vez, desse reforço positivo que as redes sociais fingem ter, como o clássico “Like” ou “compartilhar”.
  • A falta de uma autêntica qualidade em suas próprias relações sociais gera uma necessidade básica de acumular seguidores e amigos em suas redes sociais.
  • Estas amizades são, no geral, vazias e muito efêmeras. Entretanto, a sensação de perda não dura muito tempo, porque a cada “amigo eliminado”, podem ser adicionados outros mais.
  • A adolescência deveria ser um momento onde as relações sociais marcam um antes e um depois. Deveriam ser pilares emocionais que ajudassem os adolescentes a crescer e amadurecer.

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Rodrigo Chimello

A researcher with a background working in the marketing and market research industry. Creating next-level insights.